12/03/2010

Estrutura da África impressiona arquitetos da Copa 2014.

A viagem de visitas técnicas promovida pelo Portal 2014, no início de março, aos principais estádios construídos e reformados pela África do Sul para a realização da Copa 2010 pode ser comparada a um verdadeiro descobrimento. Essa foi a opinião geral dos 18 arquitetos dos escritórios de arquitetura responsáveis pelos projetos dos estádios para a Copa 2014 no Brasil, que juntamente com representantes dos patrocinadores da viagem e diretores do Portal 2014, compuseram a delegação que viajou pelo país sul-africano de 1º a 8 de março de 2010.
Não é para menos. Para a imensa maioria, que nunca havia pisado na África do Sul, a qualidade geral da infraestrutura verificada nas cidades visitadas - Johannesburgo, Pretória (capital do país), Durban, Porto Elizabeth e Cidade do Cabo - deixou todos os 26 integrantes da delegação brasileira literalmente de “queixo caído”. Nas palavras do arquiteto Leon Myssior, vice-presidente de Arquitetura do Sinaenco (Sindicato Nacional da Arquitetura e da Engenharia) e coordenador do Fórum Time dos Arquitetos da Copa, “a África do Sul foi uma surpresa muito positiva, bem além do que esperávamos encontrar nesse país africano e, no geral, bastante superior à nossa realidade”.
Já no desembarque no moderno e muito bem instalado aeroporto de Johanesburgo, a boa impressão causada pelas principais cidades sul-africanas visitadas, as cinco maiores e mais importantes do país, seguiu-se de forma bastante repetitiva, ainda que certamente com diferenças entre elas: aeroportos, rodovias, avenidas, parques, edifícios públicos e privados, centros comerciais, limpeza pública e segurança de excelente nível aliam-se a belezas naturais e à diversidade e riqueza cultural e socioeconômica impressionantes para nós, brasileiros que desconhecíamos essas características do país que sediará a próxima Copa do Mundo, a partir de 11 de junho.
Mazelas
É claro que nem tudo são flores na África do Sul, que apresenta também mazelas, como a pobreza relegada às Townships - o equivalente às nossas favelas -, níveis de desemprego elevado (21,7% em 2008), principalmente entre a população negra, majoritária no país, engrossada ainda pelas levas de imigrantes dos países vizinhos, como o Lesoto, Namíbia, Suazilândia, Moçambique e outros, atraídos pela relativa riqueza sul-africana, responsável por 1/5 do PIB africano.
Há ainda dificuldades no transporte público, mais uma “herança maldita” do apartheid: como os brancos andavam de carro, o regime segregacionista pouco se preocupava em melhorar as condições de transporte para a população negra. Além disso, os serviços deixam a desejar - a eficiência sul-africana em outras áreas ainda não chegou, de maneira geral, aos funcionários de hotéis, restaurantes e demais estabelecimentos que atendem ao público.
A tecnologia de informação sul-africana também deixa muito a desejar - as conexões pela internet são lentas e arquivos cuja transferência demora poucos minutos no Brasil chegam a exigir mais de uma hora para ser transferidos na maioria das cidades do país. E há as outras sequelas herdadas do regime do apartheid, oficialmente encerrado em 1994, mas cujas chagas ainda persistem, expressas nas diferenças sociais e econômicas e pelo inconformismo com as mudanças por parte da até então dominante, embora minoritária, população branca do país, formada por descendentes de ingleses, holandeses e alemães, principalmente. Por último, a Aids atinge níveis alarmantes no país: nada menos que 5,5 milhões de sul-africanos são portadores do vírus HIV.
Referência para o Brasil
Nada disso, porém, ofusca o fato de que a África do Sul pode sim servir de referência para o Brasil, principalmente por termos o mesmo nível de desenvolvimento econômico - o Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no país) brasileiro foi de US$ 1,636 trilhões contra US$ 0,506 trilhões da África do Sul, ambos de 2008 -, especialmente, porque nosso país apresenta sem dúvida possibilidades muito superiores de crescimento na economia, que pode e deve ser traduzido em melhorias das condições socioeconômicas da população e da qualidade da infraestrutura de nossas cidades.
A arquitetura e a engenharia brasileira precisam mirar nesse exemplo para dar um salto de qualidade, a fim de que possamos construir não somente estádios, mas também aeroportos, portos, habitações, saneamento, rodovias, avenidas, parques e demais áreas de lazer e de infraestrutura turística com qualidade. “A qualidade de projeto e de construção que encontramos de estádios e infraestrutura urbana nas cidades que visitamos mostra claramente que o Brasil tem as mesmas condições, técnicas e econômicas, de alcançar esse estágio. Cabe a nós, arquitetos, e à engenharia de projetos e de construção buscar essa qualidade como meta”, avalia Missyor.