01/03/2010

Atlético reforça o impasse sobre a Arena.

Curitiba foi confirmada oficialmente como sede da Copa do Mun­­do de 2014 em 31 de maio do ano passado. De lá para cá, um impasse entre o Atlético, a prefeitura e o go­­verno do estado impede que se saiba quem vai bancar a obra de con­­clusão da Arena. O clube avisa que só bancará 30% do total necessário para terminar o estádio.
Há nove meses a conversa é nesse ritmo. O clube não admite se en­­dividar ou bancar sozinho a adequação de sua casa para o Mundial de 2014. Curitiba e o Paraná montaram comissões especiais e fizeram mobilização política, mas também não trouxeram a resposta de quem vai viabilizar a obra.
No dia 13 de janeiro, no Minis­­tério do Esporte, em Brasília, os en­­volvidos assumiram o compromisso de cumprir prazos e participar das etapas de preparação das praças esportivas e das cidades in­­di­­ca­­das. Mesmo assim, a dúvida sobre a viabilização da obra prossegue.
O Atlético, apesar da Matriz de Responsabilidades, não admite bancar mais do que o montante que seria gasto para o término do estádio sem a Copa - ou seja, pouco menos de 1/3 do estimado. Já a prefeitura e o governo estadual asseguram que a responsabilidade do local das partidas é apenas do clube proprietário.
“Isso já está superado. O estádio é responsabilidade do Atlético, que vai levantar o dinheiro”, afirma o gestor de Curitiba para a Copa 2014, Luiz de Carvalho. “Nós te­­mos de ajudar o clube a encontrar os investidores. Mas o estádio sempre foi responsabilidade do Atlé­­ti­­co que também está correndo atrás”, reforça o vice-governador Orlando Pessuti, presidente do comitê paranaense para assuntos da Copa de 2014.
Os integrantes do poder público admitem apenas investir di­­nhei­­ro estatal no entorno da Are­­na, nas demais áreas de acesso pela cidade e na parte de infraestrutura. Segundo a prefeitura, há um orçamento de R$ 250 milhões visando as melhorias para a Copa. Já o go­­verno fala em R$ 600 milhões com a ajuda do PAC (Pro­­grama de Ace­­leração do Cresci­­mento do go­­verno federal).
“Não temos autorização para colocar dinheiro público em um estádio privado”, avisa Pes­­suti. “É necessária uma energia maior do poder público”, cobra o vice-presidente do Atlético, Enio Fornea.
Apesar das discordâncias, Curi­­tiba, pelo menos, está cumprindo o primeiro prazo estipulado pela Fifa quanto aos estádios. A entidade máxima do futebol manda que até amanhã (1.º de março) tenham início as obras.
“Além de o Atlético já ter inaugurado parte do novo setor de ar­­quibancadas no ano passado, nossos técnicos já estão trabalhando há muito tempo. As obras já começaram e esse também é o entendimento da Fifa”, diz Carvalho, prevendo para junho ou julho a presença dos primeiros operários trabalhando na casa atleticana. “Pelo que estou acompanhando, devemos ser um dos primeiros a entregar a obra para a Fifa. Só Porto Ale­­gre está em estágio parecido”, confia Pessuti, sabendo que o prazo fi­­nal para a entrega dos estádios é dezembro de 2012, quando serão definidas as praças que receberão a Copa das Confederações de 2013.
Entrevista
Enio Fornea, vice-presidente e diretor de obras do Atlético
Mesmo com a assinatura da Matriz de Responsabilidades, em janeiro, o Atlético considera que não é obrigado a bancar sozinho a obra da Arena.
O clube se compromete a arrumar 30% do valor total que será empregado no estádio, mas joga para o poder público o responsabilidade do restante. Segundo Enio Fornea, responsável atleticano pela conclusão da praça de esportes, o Furacão vai concluir a Arena com ou sem Copa do Mundo.
O Atlético considera que está cumprindo o prazo de iniciar as obras no dia 1º de março?
Sim. Tem cidades que ainda não têm nem o terreno liberado para construir o estádio. Nosso estádio é o mais adiantado de todos. Tive reuniões nesta semana com o secretário Luiz de Carvalho e com o prefeito Beto Richa. Estamos buscando a viabilização da obra, mas no ano passado já inauguramos o primeiro anel da nova ala.
Quem vai bancar a obra?
Assumimos um percentual dos custos e isso vamos cumprir com ou sem a Copa. Bancaremos 30% do custo total se for necessário a adequação para a Copa. É o mesmo valor que gastaríamos para a conclusão sem a necessidade das adequações. Por exemplo, os vestiários que estão sendo enterrados abaixo do setor Brasílio Itiberê poderiam ficar onde estão atualmente (atrás do gol de fundo) se não fossem as exigências.
Mas os outros 70%, quem vai bancar?
Não é justo o Atlético assumir uma responsabilidade por três ou quatro jogos de Copa. Essa diferença está nas mãos do poder público. A Copa é um evento da cidade e do estado, não só do Atlético. O poder público precisa ser mais enérgico.
O custo da obra com a Copa continua em R$ 138 milhões ou pode diminuir?
Não posso falar em valores absolutos, pois ocorreram algumas reduções de impostos do Governo Federal e devem baixar esse valor. Mas posso falar em percentual. Os 30% que cabem ao Atlético serão bem feitos. Cumpriremos a nossa parte.
Isso poderá ser resolvido com um financiamento do BNDES?
Dos 30% do Atlético, sim. Estamos negociando. Do restante, não sei. O poder público tem de se envolver de forma objetiva. Não precisam se preocupar com a parte técnica. O projeto já temos todo pronto. O que falta é a viabilização. Já ocorreram umas 20 reuniões sobre esse assunto.
A Fifa exige que os estádios estejam prontos até o fim de 2012, para que possam receber a Copa das Confederações em 2013. É possível cumprir esse prazo?
Estamos preocupados em relação a prazos, mas temos como cumpri-los. Em aproximadamente 18 meses podemos concluir essa obra. Mas para uma obra acabar é preciso começar.
Se tivermos o início dessa última fase até o meio do ano que vem, há tempo para conclusão, mas ficaria muito em cima. O ideal é começar antes disso.