22/02/2010

Julião lança texto: “Recepção e decepção em Vilhena”

Venho, através deste texto, dividir com todos um pouco da experiência que vivi em minha última viagem. Como estava em recesso, resolvi acompanhar o Atlético em sua estréia na Copa do Brasil e no dia 09, na companhia do Vespúcio e do Thirso, embarquei para Cuiabá, onde de lá alugamos um carro e dirigimos até Vilhena. Além de torcer pelo Furacão, estava animado com a oportunidade de conhecer esta parte do Brasil, pois ainda não havia viajado prá lá. Gostei muito do lugar, da paisagem e do clima, que é muito parecido com o de Curitiba, mas acima de tudo curti a simplicidade do povo de Vilhena, que foi muito simpático e receptivo.
Em Vilhena conhecemos o Estádio Portal da Amazônia e demos uma volta rápida pela cidade mas logo retornamos para o hotel, pois estávamos cansados da viagem.
No outro dia encontramos o pessoal da Embaixada, que nos recebeu muito bem e depois fomos recepcionados pela Diretoria do VEC, que nos mostrou todo o Estádio e inclusive nos deixou escolher em qual lugar queríamos ficar. Conhecemos também o pessoal da Torcida Organizada do VEC, chamada de Lobos do Cerrado. Encontramos alguns torcedores que haviam viajado para lá, como nosso amigo Juninho Madeira, da UJD e por ali ficamos até a hora do jogo.
Um pouco antes do início da partida, já estávamos admirados com a quantidade de torcedores do Atlético que estavam lá para acompanhar o Furacão. Alguns haviam partido de Curitiba e muitos moravam em Rondônia ou nas proximidades. A torcida fez sua parte como sempre e, mesmo jogando muito longe, o Atlético pode contar com o apoio do seu torcedor. Mas parece que isso não ajudou muito dentro de campo e vimos um time apático, que não emboçava vontade de vencer, tampouco uma postura de estréia de Copa do Brasil.
O que faltou para o time do Atlético sobrou para o time do VEC, que deu um show de raça e superação e foi prá cima buscando a vitória até o final. Era possível perceber o esforço dos jogadores em cada disputa de bola e a alegria e emoção dos torcedores, mesmo nos chutões para tirar a bola de um lance perigoso. Foi impossível não recordar os tempos da velha Baixada, em que o Atlético não tinha um time com qualidade e técnica, mas jogava com raça e amor à camisa e a torcida, mesmo sabendo das dificuldades e, muitas vezes esperando o pior, era guerreira e empurrava o Furacão durante todo o jogo.
O que o Clube e a torcida do Vilhena mostraram neste dia, deveria servir de exemplo para muitos jogadores e muitos torcedores de hoje. Com a chegada do tal “futebol moderno”, muita gente acaba deixando de lado o verdadeiro espírito do futebol e tudo acaba virando um grande negócio. Mesmo sem ter o melhor CT, o melhor estádio, a melhor estrutura, o VEC jogou de igual para igual pela simples vontade de vencer, compensando na raça e no esforço qualquer deficiência que o elenco pudesse ter. Ao final da partida estava decepcionado pela péssima apresentação do Atlético e como torcedor esperava a vitória mas, por outro lado, fiquei satisfeito pelo fato de que todo o empenho dos jogadores do VEC havia sido compensado e o resultado foi extremamente justo.
Naquela noite presenciei mais uma surpresa das várias que existem no futebol, mas eu mal sabia que o melhor, quer dizer, o pior ainda estava por vir. Devido ao mau tempo não havia teto no aeroporto e os vôos foram cancelados então, na noite seguinte, resolvemos tomar uma gelada e comer alguma coisa e na avenida principal encontramos um bar e restaurante chamado Bangalô. Ao entrarmos, para nossa surpresa, quase todo o time do Atlético e alguns membros da comissão técnica estavam lá e com exceção do Alan Bahia, ninguém foi sequer capaz de nos cumprimentar. Sentamos então numa mesa no canto e acabamos conhecendo os jogadores do Vilhena, que também estavam lá. Começamos então a conversar e todos eles se mostraram muito simpáticos e muito contentes com nossa presença. Viramos a noite tomando cerveja e batendo um papo alto astral com os jogadores do VEC, enquanto os jogadores do Atlético, em suas mesas com muito whisky, sequer acenaram para nós. Fomos os últimos a sair do bar e os jogadores do Vilhena ficaram com a gente até fechar. Os jogadores do Atlético, que já haviam ido embora, do mesmo modo que não nos cumprimentaram, também não se despediram.
Moral da história: após a lição de superação que aqueles jogadores haviam nos dado em campo, agora nos davam uma lição de humildade e simplicidade, enquanto que os jogadores do nosso time nem ao menos nos deram boa noite. Não queríamos autógrafos e muito menos babação de ovo, mas um “boa noite rapaziada, valeu por estarem aqui” não era pedir demais. Sem falar que até agora não entendi o que eles estavam comemorando, já que haviam feito uma partida medíocre.
Gostaria de agradecer a todos que nos receberam em Vilhena, em especial ao Rodrigo da Embaixada, seu sogro Sr. Vilmar Bróbio e a toda sua Família, por todo o tratamento e pelo delicioso almoço que sua esposa preparou para nós; ao Gaúcho que preparou um churrasco na chácara da Polícia Civil com muita carne e muita cerveja; ao Natal, diretor do VEC; o Pelezinho, presidente da Torcida Lobos do Cerrado; e aos jogadores Felipe Sorbara, Edilson Pastor, Magrão, Evandro, Augusto Cézar, o goleiro Júnior e o roupeiro Tio Chico, todos do Vilhena Esporte Clube.
Por fim, aguardo os jogadores do VEC e todos os torcedores que puderem vir até Curitiba para tentar retribuir a belíssima recepção e toda a simpatia e o carinho que recebemos lá. Espero que, ao compartilhar esta história com as pessoas que lerem este texto elas reflitam sobre os valores que estão se perdendo, tanto no futebol quanto na vida. Valores simples que estamos deixando para trás neste mundo de interesses. Desejo toda sorte para o Vilhena e para estes jogadores que ainda vestem a camisa do Clube por amor e jogam pelo simples prazer de jogar. Tomara que os jogadores do Atlético passem um tempo com eles e aprendam um pouco sobre humildade e raça, coisa que está faltando em nosso elenco faz muito tempo, tanto dentro como fora de campo.