29/09/2009

O Brasil vive uma ditadura intelectual de esquerda?

Em 1964, o presidente eleito do Brasil João Goulart foi deposto. Houve o que se chama de golpe de Estado, uma fissura no sistema jurídico de um país. Há até interpretações divergentes no sentido de que teria havido um contragolpe. Ou seja, militares, pressentindo que o próprio Goulart tinha a intenção de aumentar seus poderes ilegalmente, derrubaram-no em uma ação armada (cuidado, quem defende essa versão – que não é a nossa – pode ser moralmente massacrado!). Mas ninguém costuma negar que houve uma ruptura institucional e traumática em nosso País.
A classe média brasileira, em parte, até apoiou o golpe, considerando-o preventivo. Esperavam a devolução rápida do poderes aos civis. Entretanto, ocorreu o contrário. Em 1968, com a implantação do Ato Institucional no 5, o regime ficou mais fechado. O resultado é que os militares só deixaram o comando do Executivo em 1985 e o brasileiro só pôde votar novamente para presidente em 1989.
O regime autoritário, aparentemente, se foi. Entretanto, deixou um efeito colateral terrível: o maniqueísmo completo de certos setores da sociedade. Para muitos, quem pensa de forma divergente não merece nem mesmo ser tratado com argumentos, mas com insultos e ataques. Como se a definição de pensamentos ditatoriais fosse: aqueles que não estão de nosso lado são os ditadores! Não percebem como também são autoritários.
Por isso, hoje no País, parece ser impossível debater assuntos como pré-sal, privatizações, movimentos sociais, ações sociais de forma aberta. Antes que as pessoas leiam ou tomem ciência dos argumentos, preferem agredir. Quem é contra uma estatal para cuidar do pré-sal é “contra o Brasil”; quem acha que Zelaya também quebrou a ordem legal é “golpista”; quem coloca objeções as cotas raciais é “a favor da escravidão”; quem acha que o Estado é muito grande é um “não tem sensibilidade social”, quem foi a favor das privatizações da telefonia é “entreguista”! Nesse último caso, costumam atacar o “privatista”, aparentemente sem se dar conta de que levam um celular no bolso.
O caso de Honduras é apenas o exemplo mais recente. A complexa discussão com objetivo de tentar descobrir se o que houve lá foi uma deposição legal ou um golpe é completamente deturpada por aqueles que preferem slogans. Até mesmo a tese de que não há mocinhos no que ocorre na América Central não é aceita – eternamente infantilizados, temos sempre que pensar que há um bem contra o mal.
Os absurdos levam até incoerências como identificar as ditaduras com certa ideologia e não como um mal em si. O resultado é que a escalada de autoritarismo é permitida em países como Líbia, Venezuela, Sudão, entre e outros. Como se o slogan a ser seguido fosse assim: “Ditadura de direita não pode! Mas ditadura de esquerda, pode!”. Nesse estado de coisas, até mesmo quem se posiciona contra todas as ditaduras, não importa a ideologia, também são massacrados.
Parece que, em um primeiro momento as pessoas decidem qual é o seu lado e, emotivamente, não querem mais discutir, apenas rebaixar quem pensa diferente. Acreditamos que essa posição tão agressiva contra é fruto do desespero de saber que o que ocorre no mundo possui muitas explicações (não só uma). E várias dessas tentativas de entendimento podem ser válidas. Infelizmente, a verdade pode estar com quem não concordamos.