06/04/2010

A MULATA E A IMPRUDÊNCIA.

PRIMEIRA PARTE
Segue o fluxo...
Um dia qualquer, um dia comum, terça-feira o mês é março.
Seis e quarenta e cinco da manhã, estou no banho, o calor já é intenso em Curitiba, o clima amalucou-se, rapidamente lembro do George W. Bush, enorme filha da puta que fez Cu doce para assinar o protocolo de Kyoto, novo castigo vira em forma de Katrina.
Dia que se inicia com novas esperanças.
A minha Italiana que por coincidência é há trinta anos a minha esposa necessita do carro (Uno) logo cedo. Um pequeno sorriso corre frouxo no meu rosto, vou de Catraaaaaaache (o Fusca), logo existo.
SEGUNDA PARTE
Ósculo de até logo em minha companheira, meus cachorros, Duas Meias e Chulé nos seus devidos lugares, portão aberto, chave na ignição, gira lentamente, bateria, dínamo, motor de arranque, finalmente música, alguns incrédulos chamam de ronco. Abro o quebra vento com um pouco de dificuldade, recebo uma lufada de vento fresco no peito, desço a ruela particular de nossa casa, logo estou na rua, sigo pras bandas da Secretaria de Educação.
A cada mudança de marcha é uma nota diferente para meus ouvidos, vou cantarolando “A terceira lâmina”, fico a pensar como Guido D’Arezzo, aquele monge que nomeou as notas musicais, teve esta feliz idéia sem nunca ter colocado a bunda em um FUSCA, algumas primazias são inexplicáveis. Sigo meu rumo ouvindo a sinfonia FUSCONICA e resmungando Zé Ramalho.
TERCEIRA PARTE
Sinal vermelho, o FUSCA é o segundo automóvel na fila.
Sinal do Paraíso a minha esquerda.
Uma mulata de um metro e oitenta e alguns centímetros, cabelos negros escorridos nos ombros, lábios carnudos, olhos negros e amendoados, suas pernas roliças e perfeitas escoravam aquele corpo escultural, a sua calipígio era um fenômeno digno de um pedestal sujeito a orações diárias, dentro de um minúsculo vestido vermelho que a primeira olhada parecia estar colado ao seu corpo, iniciou sua travessia na faixa de pedestres.
Com passos compassados aquele ser de jambo foi acompanhada pelas minhas retinas. De repente uma guinada a boreste rumo ao FUSCA.
Aquele hidroavião movia-se com ondulações em minha direção.
Meu músculo cardíaco acelerou, um gosto amargo nas minhas papilas gustativas, era pura adrenalina, um vazio na boca do estômago; agarrei o volante como tábua de salvação e jurei em silêncio:
EPÍLOGO
Senhor ajude-me nesta hora de tentação, olhai minha próstata, amém.
Agachou-se junto a minha janela, com sua cabeça dentro do FUSCA, senti sua respiração, seu maxilar inferior movimentou-se com elegância e daqueles lábios carnudos foi proferida a seguinte frase:
- Hei Tio, você quer vender esta merda de FUSCA?
Olhei dentro daqueles olhos negros, e lhe fiz a seguinte proposta.
- Só se você soltar agora um peido verde, afinal sou um velho Bolchevista Ecológico.
A mulata afastou-se, o sinal abriu, não vi sinal do peido, engrenei a primeira marcha e sai de mansinho. Olhei pelo retrovisor e reparei uma lágrima escorrendo naquele belo rosto.
Foi uma bela tentativa de compra.
Deduzi que a bela mulata havia se cagado.
Tirei o braço esquerdo pra fora e lhe fiz um sinal característico com o dedo médio.
A vida é mais simples do que se imagina, basta aceitar o inimaginável.
Toda e qualquer semelhança com fatos ou nomes reais é mera coincidência.