06/03/2010

Brasileira da ONU aponta efeitos negativos de megaeventos esportivos.

Um estudo da urbanista brasileira Raquel Rolnik, relatora especial da ONU para o Direito à Moradia Adequada, chegou à conclusão de que eventos esportivos do porte dos Jogos Olímpicos e da Copa do Mundo têm efeitos "alarmantes" nas populações e cidades. Entre as ações apontadas por Rolnik estão o aumento abusivo dos preços de aluguel e venda, a redução de disponibilidade de imóveis baratos e as expulsões forçadas de pessoas.
A especialista, que apresentará seu relatório ao Conselho de Direitos Humanos da ONU amanhã, se mostra "especialmente preocupada" com estes e outros aspectos, tais como a criminalização das pessoas sem lar e a prostituição. Rolnik também recomendará aos governos, ao Comitê Olímpico Internacional (COI) e à Fifa que levem em conta o direito à moradia digna e o impacto nas cidades na hora de escolher uma sede.
Segundo a relatora, 200 famílias foram expulsas de casa para obras de ampliação de estradas em Barcelona, sede dos Jogos de 1992. Na Olimpíada de Seul, em 1988, 15% da população perdeu sua moradia de forma forçada e 48 mil edifícios foram demolidos. Na África do Sul, sede da próxima Copa do Mundo, Rolnik afirma que 20 mil residentes de um assentamento informal foram despejados.
Outro efeito indesejável é a diminuição da disponibilidade de imóveis mais em conta. Na cidade canadense de Vancouver, palco dos últimos Jogos de Inverno, mais de 1.400 casas foram afetadas pela especulação imobiliária.
"A situação das pessoas sem lar também piora no contexto dos grandes eventos. Pouco antes de seu início, as autoridades locais adotam medidas para tirá-los das áreas expostas aos visitantes", acrescenta o relatório da brasileira.
Mas os megaeventos também deixam, por vezes, um legado positivo. Rolnik aponta que a Vila Olímpica dos Jogos de Moscou, em 1980, virou um condomínio com 18 prédios de apartamentos de 16 andares cada. Segundo ela, as autoridades governamentais e esportivas devem ter uma atitude responsável para encarar o impacto deste tipo de competição.
À Fifa e ao COI, ela recomenda que "avaliem as candidaturas pensando no cumprimento dos padrões internacionais sobre o direito a uma moradia digna, e escolher apenas aquelas que tiverem esta condição".
Ambas as entidades também devem pedir às cidades que informem as medidas que adotaram para evitar um impacto negativo no direito à moradia, como meio de evitar expulsões, discriminação ou ataques a comunidades.