22/12/2009

O menino da sua mãe.

No plano abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado -,
Jaz morto e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos, ele está ainda
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos
Tão jovem! Que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e mantivera:
"O menino de sua mãe".
Caiu-lhe do bolso
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
Do outro bolso
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(malhas que a ditadura tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino de sua mãe.