14/12/2009

Marcos Malucelli fala sobre seu primeiro ano no comando do Atlético.

Na semana passada completou um ano da eleição de Marcos Malucelli como presidente do Conselho Administrativo do Atlético. Neste período, o clube teve como principal conquista o Paranaense 2009, mas em compensação voltou a flertar com o rebaixamento no Brasileirão.
Malucelli recebeu ao Paraná Online em seu escritório e, dentre os assuntos, destaque para o primeiro ano à frente do Rubro-Negro, montagem do elenco para 2010, situação financeira do clube, a polêmica envolvendo torcidas organizadas, patrocínio e Copa do Mundo. Nesta edição serão abordados os dois primeiros tópicos.
Paraná Online - Qual análise o senhor faz desse 1.º ano como presidente?
Malucelli - Claro que não dá para passar um ano sem cometer erros. A intenção era ter só acertos, mas isso é impossível, principalmente no futebol. Aconteceram erros, por exemplo, na montagem do plantel. Se não tivessem acontecido não teríamos chegado até a penúltima rodada do Brasileiro para nos livrarmos do rebaixamento. Não se pode dizer que não acontecerão novos erros, mas não queremos que aconteça na magnitude de 2009.
Paraná Online - Durante e após a campanha eleitoral foi enfatizado que o clube brigaria pelas primeiras colocações nos campeonatos que disputasse. Conseguiu o título estadual, mas foi razoável na Copa do Brasil, desclassificado na 1.ª fase da Sul-Americana e brigou novamente para não cair no Brasileirão…
Malucelli - O objetivo continua estar entre os primeiros nas competições que disputarmos. Mas não podemos ficar restritos apenas ao estadual e aos torneios nacionais. Disputamos a Copa São Paulo de juniores e conquistamos um honroso vice-campeonato. Na Copa Metropolitana sub-15, fomos campeões. Estamos disputando o Brasileiro de juniores e indo bem. Chegamos à fase final do paranaense juvenil e de juniores, mas não conseguimos vencê-los. Então isso também são conquistas. Nas categorias de base vale a formação e não tanto o título. No final, eu quero saber dos técnicos quantos jogadores nós formamos para o profissional. Lá sim temos que ter anseio pelas conquistas.
Paraná Online - Esse êxito nas categorias de base se enquadra na promessa de investir mais em chuteiras?
Malucelli - Sem dúvida. Investir em chuteiras não é apenas trazer jogadores consagrados como Paulo Baier, Claiton e Alex Mineiro. Investimento em chuteira é também manter os jogadores vice-campeões na Copa São Paulo, firmando contratos de cinco anos e que vão garantir retorno financeiro ao clube nesse período. Pior seria lançá-los no profissional, eles despontassem e fossem embora por contratos curtos, como acontece em outros clubes. Sobre investir mais em chuteira e menos em tijolo, nós praticamente não investimos em tijolo. Apenas concluímos o 1.º anel da Brasílio Itiberê, que foi uma obra iniciada na gestão anterior. Se não investimos mais em chuteira é porque não temos muito mais para investir. Quando entrei, o Atlético era deficitário e continua, mas não no mesmo montante.
Paraná Online - Então ter herdado essa dívida (aproximadamente R$ 25 milhões) pode ser apontado como o fator que dificultou o seu 1.º ano de gestão?
Malucelli - Não tenha dúvida. Poderíamos ter feito mais, investido em outros jogadores. Mas não fizemos isso porque não tínhamos recurso para esse investimento. Não podemos endividar o clube e eu nunca farei isso. Eu quero diminuir os encargos do clube e não aumentá-los.
Paraná Online - Em 2009 não foram feitas muitas contratações, porém o índice de erros pode ser considerado grande…
Malucelli - Não sei exatamente quantos jogadores trouxemos, mas posso assegurar que nunca trouxemos tão poucos como em 2009. Para o Paranaense foram quatro; Marcinho e Wesley aprovaram. Depois para o Brasileiro trouxemos outros cinco, se tanto.
Paraná Online - Mas esse número reduzido é reflexo do quê?
Malucelli - É reflexo de uma maior atenção na contratação. Se levarmos em conta à quantidade de jogadores que nos oferecem, traríamos a média dos anos anteriores, de 20 a 30 atletas. Procuramos fazer uma seleção e, ainda assim, erramos. Erramos com o Lima, mas no momento foi uma aposta que todos aprovaram. O Preá foi outro erro, mas não nos custou nada. Depois tivemos empréstimos mal-sucedidos e os jogadores já foram comunicados que não vão continuar no clube. Erramos com o Eduardo, com o Zulu e procuramos corrigir com as dispensas. Erramos, mas não persistimos nos erros.
Paraná Online - Diante desse contexto, é muito difícil contratar no futebol brasileiro?
Malucelli - A qualidade técnica é pouca. Você tem que considerar que os de melhor nível técnico estão na Europa, os de segundo nível também estão na Europa como suplentes. Os de terceira estão no leste Europeu e os demais na Ásia. Então poucos ficaram no Brasil. A qualidade técnica aqui caiu e não estou dizendo nenhuma novidade.
Paraná Online - A situação financeira dos clubes brasileiros possibilita fazer grandes contratações?
Malucelli - A situação financeira não contribuiu e os salários dos jogadores estão inflacionados. Estamos tentando trazer jogadores e eles estão pedindo valores exorbitantes, que o torcedor não imagina. São jogadores que não são titulares sequer em suas equipes no Brasil e querem altos valores.
Paraná Online - Se o Atlético não tem condições financeiras de pagar altos salários e competir com outros grandes clubes, como trazer jogadores de nível para atuar aqui?
Malucelli - Não trouxemos o Paulo Baier que é de nível e provavelmente um dos melhores jogadores do Brasileiro? Então. Ele é um jogador diferenciado. Não levou em consideração apenas a questão salarial, senão estaria no eixo Rio-São Paulo, em Porto Alegre ou Belo Horizonte. Ele viu outras condições. Um jogador como Baier leva em consideração a estrutura do clube, as condições de trabalho que o clube oferece, a pontualidade nos pagamentos. Se o jogador tem essa visão, ele pode optar por um salário inferior ao daquelas praças.
Paraná Online - Então essa é a atual batalha do Atlético. Convencer os jogadores sobre essas vantagens?
Malucelli - É isso. Temos que mostrar aos jogadores as condições que ele terá ao seu dispor. A infra-estrutura da Arena, do CT, do departamento médico e fisiologia, restaurante, hospedagem. Alguns jogadores consideram isso, aqueles que já estiveram em outros clubes e sabem das dificuldades. Caso do Claiton, Alex Mineiro. Os mais novos ainda não conseguem ter essa visão.