17/12/2009

Clubes sofrem com concorrência de organizadas.

Venda de produtos com a marca das uniformizadas reduz fonte de receita das equipes e leva dupla Atletiba a bolar um contra-ataque.
Há tempos as torcidas organizadas se tornaram concorrentes dos clu­­­­bes na geração de receita. Uma simples passada de olhos nas ar­­quibancadas dos estádios de Curi­­ti­­ba em dias de jogo é su­­ficiente para ter noção do poder de penetração das marcas de Im­­pério Al­­vi­­verde, Os Faná­­ticos e Fú­­ria Inde­­pendente entre os fãs de Coritiba, Atlé­­tico e Pa­­raná, res­­pectivamente.
“Com certeza pelo menos um terço dos torcedores estão vestindo algum produto da Império”, diz um funcionário do Coxa, que, em meio ao turbilhão em que se transformou o clube após o episódio de selvageria que marcou o fim da partida com o Flu­­mi­­nense (6/12), prefere ficar no anonimato – cenas de violência em parte criadas por pessoas ligadas à principal uniformizada do time do Alto da Glória. “A concorrência existe, sim. Não há o que discutir. Desafio quem fale o contrário”, ressalta Ro­­berto Pinto, gerente de marketing do Coritiba, há menos de seis meses na função.
O raciocínio é simples. Toda vez que os torcedores compram algum item da vasta linha de produtos com os símbolos de Im­­pério, Faná­­ti­­cos e Fúria, o dinheiro fica com as organizadas. Por usarem apenas as cores e não os es­­cudos dos times, as facções fi­­cam liberadas de pagar royalties. E, o que é pior, tiram das lojas oficiais um potencial comprador – normalmente 8% do valor de uma camisa original vai direto para os cofres dos clubes. “Como o produto não é licenciado, (os torcedores) estão tirando uma parte do dinheiro do clube”, alerta Roberto.
Do outro lado, as uniformizadas se defendem alegando que o valor arrecadado serve, em grande parte, para “colorir e bancar as festas nas arquibancadas”. Ju­­lia­­no Rodrigues, vice-presidente da Fanáticos, conta que, em um mês de vendas em alta, a loja da organizada chega a gerar um lucro de R$ 5 mil a R$ 6 mil. “Mas nem sempre é assim. Em muitos mo­­mentos fe­­chamos no vermelho”, revela. “Como não temos vínculo financeiro com o Clube Atlético Paranaense, todo o dinheiro é re­­vertido para a associação, para melhorar a estrutura disponível aos associados”, acrescenta ele, citando a reforma da própria loja e o arrendamento de uma sede campestre, em Fazenda Rio Gran­­de, na região metropolitana de Curitiba, como investimentos re­­centes da facção.
A reportagem entrou em contato com Luiz Fernando Corrêa, o Papagaio, presidente da Im­­pério Alviverde. O torcedor avisou, po­­rém, que não se pronunciaria sobre o assunto. O mesmo procedimento foi adotado pela diretoria do Paraná.
Incomodada com a competição econômica, a dupla Atletiba já se ar­­ma para avançar sobre o principal filão da concorrência – produtos com preços mais populares. “Já solicitamos à Umbro (fornecedora de material esportivo) materiais diferenciados, para atender a uma classe com menor poder aquisitivo”, explica Roberto Ka­­ram, coordenador de marketing do Atlético. “Estamos desenvolvendo um trabalho muito forte de consolidação da marca Co­­ritiba e, ao mesmo tempo, da im­­portância dos produtos licenciados. Vamos buscar um pouco dessa receita da Império, atingindo a todas as classes”, emenda o coxa-branca Ro­­berto Pinto.
Imagem negativa
Mesmo sendo sucesso na venda de produtos, as organizadas se­­guem com sua imagem ligada à insegurança nos estádios, percepção que deve aumentar após os episódios do dia 6. Pesquisa realizada no fim de novembro em 26 estados e no Distrito Federal pela TNS Sport Brasil, empresa especializada em levantamentos es­­portivos, indica que 91% dos curitibanos associam a violência relacionada ao futebol às facções. Ape­­nas Santos (95%) e Florianó­­polis (91%) aparecem à frente da capital paranaense.