21/12/2009

Atlético tem pouco mais da metade do orçamento.

Marcos Malucelli fala que o gasto anual do clube gira em torno de R$ 45 milhões e o que tem garantido são R$ 24 milhões, 12 da tv e mais 12 dos sócios.
Na edição da última segunda-feira, o presidente do Atlético, Marcos Malucelli falou como foi o seu primeiro ano de mandato e também sobre o planejamento para a montagem do grupo para 2010. Nesta edição, ele comenta a situação financeira e a polêmica envolvendo torcidas organizadas.
Paraná Online: Qual avaliação o senhor faz do Atlético no aspecto financeiro?
Malucelli: O Atlético não está pior que nenhum outro clube da Série A. Para comparar, basta fazer um levantamento dos times que aderiram à Timemania. Dentre os clubes da Série A, o de menor dívida é o Atlético. Consolidamos da Timemania R$ 7 milhões e de dívidas muito anteriores às gestões recentes. São dívidas da década de 80, porque de 90 para cá foi tudo pago. Poucos clubes conseguiram consolidar um valor tão baixo. Acredito que não há outro clube que dispute a Série A com um valor tão baixo.
Paraná Online: Hoje o valor arrecadado pelo sócio-torcedor é a maior fonte de renda do clube ao lado das cotas da televisão, em torno de 12 milhões. Há possibilidade de investir a quantia arrecadada com os sócios somente em futebol?
Malucelli: Vamos falar em números redondos a grosso modo. São R$ 12 milhões das cotas de televisão mais R$ 12 milhões do sócio. Somam 24 milhões. Você tem um orçamento de R$ 45 milhões (para cobrir gastos do clube). Então não tem como dizer que o dinheiro do sócio vai para o futebol. Não vai. Vai para o todo. Como pagar os 45 dos 24? Você tem que ter patrocinador, que pouco temos, e tem que ter outra fonte de renda que é a venda de jogadores. Isso porque não temos renda de jogo. Nosso borderô de jogo se restringe, como entrada de dinheiro, a venda dos ingressos da torcida adversária. Porque o local está vendido para os sócios.
Paraná Online: Em 2009, o Atlético não vendeu nenhum jogador. Assim fechará o ano mais uma vez deficitário?
Malucelli: Sem dúvida nenhuma. O Atlético realizou apenas empréstimos. O déficit será bem menor do que o ano anterior, mas mesmo assim teremos dificuldades para fechar o balanço. (nesta semana ocorreu a venda de Danilo por 1 milhão de euros, a 1.ª venda da gestão Malucelli).
Paraná Online: Quando o Atlético deverá receber o dinheiro referente às transações envolvendo Michel Bastos (Lyon) e Cristian (Fenerbahce)?
Malucelli: Já estamos recebendo. Mas não são pagamentos à vista. São pagamentos anuais que serão pagos em três anos. Da primeira parcela que o Lyon pagou para o Lille e que o Fenerbahce pagou ao Corinthians, nós já recebemos nossa parte. Ainda receberemos em 2010 e 2011.
Paraná Online: Um tema bastante polêmico no momento é torcida organizada. A atual diretoria do Atlético também possui um bom relacionamento com as torcidas organizadas, assim como a do Coritiba mantinha. O senhor teme, ou já temeu, que aconteça algo semelhante ao ocorrido no Couto Pereira com o Atlético?
Malucelli: Nosso relacionamento com as torcidas organizadas é diferente do que o Coritiba mantinha com as deles. Nossas torcidas não têm ingerência ou participação dentro do clube. Não tem diretor dela dentro do clube. Nossa relação é de mútuo respeito. Eles contribuem e muito durante os jogos e nos respeitam porque estamos aqui para administrar o clube com a maior lisura possível. Não damos ingresso à torcida, não patrocinamos viagens para fora e não oferecemos espaço na Arena para servir de depósito para a torcida. Nosso relacionamento é apenas de respeito. Não temos intimidade com a torcida. Estamos nos dando bem exatamente por não termos essa proximidade. Eles tocam a associação deles e torcem muito, o que nós agradecemos. Mas nosso relacionamento é esse. Não ganham ingresso e não têm qualquer benesse. Eles são associados ao clube senão não conseguiriam entrar. Tenho todo o respeito pela diretoria do Coritiba e já falei isso para o (Jair) Cirino, que é meu amigo e uma pessoa séria e correta. Disse que a nossa proximidade com a torcida não passava do respeito mútuo e não tínhamos nenhum contato direto. E posso assegurar que não teremos. Não há reunião com diretor, nem com jogador. Nada.
Paraná Online: No novo estádio não haverá fosso, o que em tese facilita uma invasão. O Atlético nos últimos anos também não tem conseguido fazer um bom campeonato e se classificar entre os primeiros. O que aconteceu com o Coritiba poderia acontecer no Atlético? O senhor não teme que isso venha a acontecer?
Malucelli: É claro. Ano passado tinha o risco e tomamos todas as precauções e reforçamos a segurança. Por sorte e competência dos jogadores ganhamos e bem do Flamengo. Mas o clima daquele jogo era diferente do jogo do Coritiba com o Fluminense. Foram situações idênticas, mas com comportamento diferente. O que aconteceu no Couto Pereira parecia ser uma coisa anunciada. Não tínhamos esse mesmo clima no ano passado. O nosso clima era de integração total entre clube, jogadores e torcida. Mas poderia ter acontecido conosco, é claro. E pediríamos reforço de segurança. Além disso não há mais o que fazer. É ter policiamento e seguranças particulares para coibir a revolta.
Paraná Online: O torcedor curitibano está pronto para usufruir um estádio como a futura Arena?
Malucelli: Está preparado. Dizia-se que o púbico não estaria preparado para não jogar papel e copo plástico dentro do campo. E agora não temos mais nada disso. Ele está preparado, sim. No setor Brasílio Itiberê (Arena) não há fosso e tivemos uma partida onde perdemos e não houve qualquer incidente. O público está e ficará melhor preparado. Acredito que haverá punição aos torcedores infratores e isso vai afastar os baderneiros dos estádios. Até o próprio valor do ingresso os afasta. O preço que praticamos é outro e nós jamais faremos na Arena, enquanto estiver como presidente, um jogo por 5 ou 10 reais. Quem quer pagar pouco tem que se associar ao clube. Além de pagar preços mais em conta, ao se associar, o torcedor cria um vínculo com o clube.
Paraná Online: Sua opinião sobre as torcidas organizadas.
Malucelli: Já tive mais restrições às organizadas. Mas acredito que o mal maior não é a torcida organizada. Talvez seja a desorganização dessas torcidas. Porque elas deveriam ter um cadastro com a totalidade dos associados, deveriam ter uma vigilância maior porque dentro das organizadas, de modo geral, existem os comandos que acabam se sobrepondo ao presidente da organizada. Então o problema não é a torcida organizada. O problema é muito maior. É estrutural, social, cultural, de educação, de saúde. Agora estoura no torcedor, mas vem desde o berço. Há também o problema da impunidade, que espero que acabe com o projeto que está no Congresso desde março para mudar a lei do Torcedor. Seria ótimo, porque lá há punição, mas não está transitando como deveria. No Atlético, aumentamos o número de câmeras, algumas inclusive voltada para a torcida adversária, e aparelhos mais sofisticados. E vamos atualizar ainda mais o sistema de segurança do clube.
Paraná Online: O regulamento não permite, mas falando hipoteticamente. Se o Coritiba solicitasse a Arena para mandar seus jogos, o senhor concordaria?
Malucelli: Isso é apenas no campo da hipótese. Mas se nos fosse solicitada a Arena, eu levaria a questão ao Conselho Administrativo. Lá os cinco diretores decidiriam. Mas posso dizer que o Atlético não tem a menor intenção em dificultar qualquer coisa ao Coritiba. É um co-irmão, clube centenário e de tradição. Não tem a maior torcida de Curitiba nem do Estado, porque essa é do Atlético. Mas é um clube pelo qual tenho todo o respeito e o Coritiba não encontrará em mim, como presidente do Atlético, qualquer obstáculo a uma ajuda que possa ser dada.