17/11/2009

Um dia a casa cai.

Paulo Leminski: poeta, curitibano, professor, judoca, redator de publicidade e atleticano. Nasceu em 1944, e não morreu. Não é suficientemente conhecido por nós – curitibanos – e por grande parte do País. Isso confere ao Paulo ainda mais mistério e faz com que sua obra repouse numa espécie de jazida que garantirá às gerações futuras generosas doses de Leminski (nem toda a riqueza do Brasil está guardada no pré-sal, estejam certos).
Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia do poeta Matsuo Bashô. Encantou-se pelo haicai. Segundo Paulo Franchett - Professor de Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa da Universidade Estadual de Campinas e, seguramente, um dos maiores pesquisadores do haicai no Brasil – o haicai é um texto breve, composto de 17 durações, centrado numa percepção da transição das estações.
As dezessete durações são divididas usualmente em duas frases, que provocam uma contraposição entre o que é passageiro e o que é duradouro, o que é humano e o que é cósmico, o que é pequeno e o que é grande e assim por diante. No geral, é objetivo.
Em poucos textos escritos por grandes haicaístas encontra-se a expressão direta de sentimentos. O mais das vezes, a emoção intensa que é despertada é provocada pela cena rapidamente esboçada, pela expressão indireta do sentimento. Assim, o haicai japonês é um poema breve e que tem como centro um fenômeno ligado à sucessão das estações do ano.
A expressão “durações” é usada porque em japonês se contam as durações, como em latim ou grego. Isto é: há sílabas breves, que valem uma duração, e longas, que valem duas durações. Nas línguas ocidentais, quando se quer imitar a forma do haicai, substitui-se o conceito de duração pelo conceito de sílaba. Daí a definição do haicai como um poema breve composto de 3 versos: o primeiro e o terceiro de 5 sílabas e o segundo, de 7.
São de autoria do genial Leminski os três haicais que seguem e que eu, criteriosa e afetuosamente, escolhi para lhes oferecer:
pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando
***
o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupado
***
nadando num mar de gente
deixei lá atrás
meu passo à frente
Rafael Lemos: colunista de araque, curitibano, advogado bissexto, professor de Língua Portuguesa que não possui diploma de Letras, botonista (ou praticante de Futebol de Mesa, como preferem os puristas) e atleticano. Nasceu em 1975, e não pretende morrer - nem cedo, nem tarde. Não é suficientemente conhecido pelos curitibanos, o que no fundo acaba sendo uma boa coisa, pois isso dificulta o trabalho de cobradores e Oficiais de Justiça.
Estudioso de coisa nenhuma, encantou-se – há menos de dois anos – pela obra do Leminski e hoje, nesta coluna, resolveu, ousadamente, misturar coluna de futebol com haicai e eis que o resultado deu no que a seguir será apresentado (e salve-se quem puder, inclusive e principalmente eu, assim espero).
1. Em homenagem a Marcos Malucelli (e às suas chuteiras):
O homem de cabeça branca adentra a loja e ordena:
- Quero cinco milhões em chuteiras, pois não gasto mais em tijolos, nem mesmo em azulejos!
O balconista, incrédulo, pergunta:
- Mas cinco milhões em chuteiras, ó nobre amigo de cabeça branca? Tens certeza?
- Achas pouco? Dê-me o dobro: dez milhões em chuteiras! E dá-me logo, que estou rouco!
- Mas dez milhões em chuteiras? Aqui na minha humilde loja?
O homem de cabeça branca – soberbo – ironiza:
- Vais me dizer que não tens dez milhões em chuteiras para me vender?
O balconista, em serena resposta:
- É que aqui eu vendo tijolos, chuteiras são vendidas na Galeria oposta!
Moral da História, na base do provérbio chinês: “Aquele que pergunta, pode ser um tolo por cinco minutos. Aquele que deixa de perguntar, será um tolo para o resto da vida”.
Moral da História, no popular: “Quem de chuteiras e tijolos não sabe nada acaba fazendo cagada!”.
2. Em homenagem ao Coelho e ao Cordeiro (não é o Elias, é outro):
Perguntam ao torcedor Atleticano:
- Coelho ou Cordeiro: dentre eles quem lhe parece o menos pior?
- O Coelho! – responde o Atleticano.
- E por quê?- Ora, por ser desses animales o menor!
Moral da História, na base do provérbio árabe: “Se teu inimigo é o mosquito, vê nele um elefante”.
Moral da História, no popular: “Companheiro é companheiro e fia da puta é fia da puta!” (Ao Amigo Marco Aurélio Onda – baita companheiro – o meu cordial abraço).
3. Em homenagem ao Filósofo da Bola e Matemático, Flávio Lemos, meu querido irmão, embora seja coxa-branca:
- Rafael, vocês estão namorando a Série B faz tempo. Estão tendo mais sorte do que juízo! A gente que namorou logo casou com a desgraçada! Dois anos difíceis, mas caímos fora enquanto era tempo. O Paranazinho vai cumprir à risca o que o padre falou por ocasião do casório: “Até que a morte os separe”. Se bem que não levará muito para isso ocorrer. Já deram até extrema unção para o coitado do Paranito!
Moral da História, na base do provérbio latino: “Magis experiendo quam discendo cognoscitur” ou “Mais vale experiência que ciência”.
Moral da História, no popular: “Vão brincando que um dia a casa cai!”.