16/11/2009

Réquiem por Ruth Handler.

Morreu ontem a mãe da Barbie, a boneca adolescente. À semelhança de Atena, Barbie saiu armada dum cérebro, não divino, mas industrioso, com a longa cabeleira e a azúlea mirada.
Morreu a mãe da Barbie, a filha que nunca será órfã, pequeno duende de sutiã 38 e de 33 polegadasde altura. Trinta e três polegadas multidesejantes de sonho anatomicamente impossível.
Morreu a mãe da Barbie, que faz balé, esqui, patins em linha e todos os desportos radicais e tem um namorado elegante que jamais a trairá e amigos tão anatomicamente imperfeitos como ela.
Morreu a mãe da Barbie, que vai a todas as festas com muitos vestidos de gala e enegreceu há uns anos, qual Naomi Campbell, para ser consumida pela boa consciência racial do Ocidente.
Morreu a mãe da Barbie, que jamais a viu, assim anatomicamente imutável, padecer de uma gravidez adolescente.
A Barbie é sabida e deve ter tido educação sexual. Que fará ela com o Kenno regresso de tantas festas?
Nem paixão nem desgosto nem fomeou uma boa sova dos adultos alteram a sua fábula de plástico, muito menos fabulosa do que a de Branca de Neve ou a da Bela Adormecida, onde existiam humanas bruxas, vencidas maldições e príncipes que davam beijos para acordar.
Morreu a mãe da Barbie, cedo demais para inventar uma Barbie de burka, ou com explosivos escondidos no cinto. No fim da vida continuava a vender milhões de próteses mamárias, na seqüência da sua própria mastectomia. Coisas sem brilho, impossíveis de acontecer à Barbie.