14/05/2009

A CORDA SEMPRE ARREBENTA NO MAIS FRACO.

Um texto do meu amigo, Dr. Rafael, só para descontrair.

O cara ia sentadão lá no fundo do ônibus. Em certa altura, entram no veículo mãe e filha. A mãe deveria ter uns 42 anos, mas tinha uma cara de bruaca que faça-me o favor; a filha devia ter uns 16 aninhos e uma saúde dessas de tirar o chapéu, um corpinho escultural e um rostinho de anjo, ai, ai.
Pra quê? O cafajestão lá do fundo ó, grudou os olhos na mina, e a mãe, que de boba só tinha o molejo, censurou o folgado, ali mesmo, na bucha:
- Tá admirando ela, né? Bonita ela, né?
O rapaz, de bate-pronto, sapecou:
- De fato, muito bonita a sua neta! – e o cara falou isso na mais pura maldade afinal de contas a mulher era feia, mas não parecia avó da garota.
Ah, senhores, a mulher se queimou, com justa razão, onde já se viu?! E daí engrossou com o “cafa”:
- Mas essa é muito boa! Não bastasse devorar minha filha com os olhos agora me xinga de velha! Me xinga de velha! De velha!
Só que a mãe ofendida mal acabou de dizer aí o seu travessão supracitado e foi logo censurada por uma velhinha que estava no banco para idosos, logo depois da catraca.
- Te xingou de velha? Mas desde quando velha é xingamento! Velha não é xingamento, não!
E a velha apresentou, aos berros, seus argumentos e logo ganhou a solidariedade de um rapaz que se encontrava também na cena. Disse o moço, mais solidário que Natal de pobre:
- A senhora está coberta de razão, vovó. E eu, como estudante de Direito, ofereço-me para processar essazinha aí por danos morais e patrimoniais! Eu processo, processo! – vociferava o causídico como se estivesse diante do homicida de sua própria mãe.
Só que, de repente, houve nova manifestação. Outro rapaz, um pouco mais velho, pediu a palavra e se meteu:
- Você é estudante de Direito?
- Sim, declarou-se o moço-solidário.
- Estudante ainda?
- É!
- E vai processar como, se você nem é inscrito na OAB? - Bem, eu...
- Você é um charlatão, rapaz! E sendo eu advogado, formado pela PUC, devidamente inscrito na OAB, com anuidade paga até dezembro de 2009, dou-te, agora, voz de prisão, por exercício ilegal da profissão!
E tudo isso acontecendo dentro do ônibus que seguia, a duras penas, o seu itinerário.
Enquanto o pau comia lá pelo fundo do veículo, um bom velhinho aproximou-se do cobrador e perguntou:
- Meu filho, onde é que fica o ponto do campo do Atlético? Eu preciso descer no campo do Atlético, ouviu? Do Atlético, ali na Arena, que antes era Joaquim Américo, mas isso já faz tempo. É ali que eu vou ficar, entendeu?
Respondeu o cobrador:
- Ah, vovô, fica a uns cinco ou seis pontos daqui, quando chegar lá eu te dou um toque! Fique frio!
- Ah, então tá bom, filhinho, tá bom, eu te agradeço!
E o pau tomando proporções inomináveis, dantescas, e o motorista, nem aí com aquela guerra, continuava a cumprir o roteiro definido para aquela linha de transporte coletivo urbano.
E lá atrás o caldo já grosso ia entornando de vez:
- Tá preso!
- Velha é a tua mãe, cafajeste!
- Pára de olhar pra minha bunda, gostoso, quer dizer, horroroso!
- Sou estudante da UFPR, melhor que estudar Direito na PUC!
- Processo, sim, tá pensando o quê?
- Charlatão!
- Olha o campo do Atlético, vovô! Olha o ponto do campo do Atlético!
- Vem cá que eu te furo os olhos, debochado!
- Tá no código penal, exercício ilegal da profissão, seu safado!
- Todo mundo um dia fica velha, meu bem, você também vai ficar!
- Olha o campo do Atlético. Olha o ponto do campo do Atlético!
- Pára de olhar pro meu decote, meu amado, quer dizer, tarado!
- Sou estudante da UFPR, melhor que estudar Direito na PUC!
- Processo, sim, tá pensando o quê? Olha a “Persecutio crimini”!
- Lana caprina, Lana caprina!!!
- Charlatão!- O campo do Atlético passou, vovô! O campo do Atlético passou, vovô! – exaltou-se o cobrador tentando chamar a atenção do velhinho que lhe pedira a preciosa informação!
De repente, fez-se o silêncio (e não foi qualquer silêncio, não: fez-se "o" silêncio!).
E o cobrador, atônito, repetiu:
- O campo do Atlético, passou, vovô! Agora o próximo ponto só lá na praça, só lá no ponto final.
E eis que diante da informação do cobrador, todos esqueceram suas desavenças particulares e se voltaram contra o coitado, usando as piores palavras já inventadas nessa tal Língua Portuguesa.
Resultado da história: o cafajestão se casou com a menina gostosa. A mãe nervosa está aprendendo tricô, com a velha injuriada, para fazer o enxoval do bebê que já está a caminho. O advogado contratou o estudante e hoje ambos trabalham num belo escritório que vende meias Vivarina, facas Ginsu-2000, canetas Penalli, todos os produtos da Avon, além, é claro, de prestar serviços esotéricos tendo como base o Tarô de Marselha. O velho continua pegando o ônibus, diariamente, para ir visitar uma moreninha linda que mora ali perto do campo do Atlético e que tem uns 50 anos menos que ele. O cobrador continua procurando emprego, pois, como se sabe: a corda sempre arrebenta do lado mais fraco. E com ele não seria diferente!